A mulher do comboio

Wednesday, July 19, 2006

Por dentro do IML

Um prédio comum, quase despercebido na entrada de Santos, é o seu local de trabalho. Passaria incólume, mas a presença de viaturas funerárias e, principalmente, de homens e mulheres às lágrimas, revela a verdadeira função do cinzento edifício: IML – Instituto Médico Legal. É onde trabalha o médico-legista Édson Fuim, diretor do centro que funciona desde os anos 20, e que está no seu atual endereço há quase 10 anos.
Esse paulistano de 64 anos, simpático no tratamento, porém duro e honesto quanto às condições de trabalho, demonstra uma dedicação exemplar quando fala de sua profissão, exercida há mais de 30 anos. Clínico e pediatra de formação, chefia uma equipe com cerca de 25 funcionários, entre médicos, auxiliares e atendentes de necrotério. O grupo tenta, dia após dia, desvendar os segredos que cada necrópsia – vulgarmente conhecida como autópsia – apresenta. Isso, com as precárias condições de trabalho que são obrigados a enfrentar, que Fuim não tem receio em dizer. Revela, por exemplo, que a maior parte da mobília existente foi fruto de doações. Uma rápida olhada nos serrotes, além de produzir um frio na espinha, serve também para imaginar que as ferramentas estão ultrapassadas. O IML, que atende Santos, São Vicente e Cubatão, possui poucos funcionários para atender todas as ocorrências, acarretando uma demora na retirada dos corpos nos locais dos acidentes. Sem contar com a falta de amparo por parte das prefeituras municipais, que poderiam disponibilizar verbas para uma melhoria do serviço.

Curiosidades

O médico conta que seu trabalho sofre um pouco de preconceito, pois muitos imaginam que sua função se resume unicamente a “cortar defuntos”, expressão que ele refuta prontamente. “As pessoas imaginam que só trabalhamos com os mortos, mas cerca de 70% dos casos que atendemos são com os vivos, como em exames para verificação de agressões e estupros. Além disso, temos que possuir um vasto conhecimento médico, noções sobre diversos campos da Medicina, como patologia e anatomia. Aqui não há espaço para o meio-termo”.
Fuim revela algumas curiosidades, como quando teve que realizar autópsias em pessoas que conhecia, ou quando teve que atender a explosão da Vila Socó, em Cubatão, célebre caso nos anos 80, com dezenas de mortos. “Mas, devido à experiência adquirida, não me impressiono com essas situações. Faz parte do meu trabalho”.

Vida em Família

Casado com uma professora e pai de uma dentista e de uma advogada, Fuim diz que, embora próximo da aposentadoria, pretende seguir trabalhando no IML e morando em Santos, cidade que escolheu para realizar estágio e residência, ainda nos tempos da faculdade, cursada em Uberaba/MG. Ex-jogador do juvenil do Juventus, esse palmeirense adora futebol, mas mesmo sua paixão pelo esporte parece não ser superior à dedicação ao trabalho, que tem orgulho em exercer com o máximo de profissionalismo, numa questão de vida. Ou de morte.

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