A mulher do comboio

Tuesday, July 24, 2007

UM DOMINGO DIFERENTE EM SÃO PAULO

Ronaldo Andrade,
de São Paulo

Alguém já disse que o domingo não é apenas mais um dia no calendário, mas sim um estado de espírito. Reunir a família, ir ao shopping, uma descida à praia, assistir à partida do time do coração. Nesse domingo, entretanto, um passeio diferente foi a opção de dezenas, de centenas, de milhares de paulistanos e de moradores de outras cidades e Estados. O endereço, todos no Brasil conheceram essa semana: Avenida Washington Luís. Ou simplesmente, Aeroporto de Congonhas.

O choque do Airbus-A320 da TAM no terminal de cargas da própria empresa produziu, além de duas centenas de vitimas e dor entre os familiares, compaixão por parte das pessoas. “Vim de Taboão da Serra para ver isso aqui, li que dois passageiros eram de lá”, conta a dona-de-casa Cleide da Silva. Mas você não as conhecia? “Não, mas quis vir assim mesmo, para ver a dimensão do acidente”. Talvez só mesmo a profundidade da tragédia pode explicar a enorme afluência de pessoas nessa tarde de sol e calor: é preciso ver com os próprios olhos a brutal realidade. Por mais que a TV, rádio, jornais, revistas e internet mostrem ao mundo o que acontece, nada é mais contundente do que ver, através do próprio olhar, o horror do prédio destroçado, sentir o cheiro de queimado que ainda se faz presente, suspender a respiração quando se ouve o ronco dos motores de mais uma aeronave deixando o solo do aeroporto, piso esse alvo de intensa polêmica (Grooving ou não grooving? Eis uma das muitas questões).

A localização de Congonhas, espremido entre o mar de prédios e que provoca intenso debate, parece não assustar a secretária pedagógica Áurea Soares. Moradora da região há 40 anos, não pensa em se mudar, pois “o local é privilegiado, tem tudo perto. Inclusive o aeroporto”. Ela esteve no local devido à tristeza que sentiu e por querer contribuir com as famílias atingidas a apaziguar a dor. “Estou rezando por elas”.

Quem também esteve no local, mas por motivos profissionais, foi o repórter Miguel Acuña, repórter do Canal 13, do Chile. Veio especialmente cobrir o acidente, pois inicialmente foi veiculada a informação de que um chileno estaria entre as vítimas, o que acabou sendo desmentido. E como chegou ao Brasil? Por avião? “Sim, mas desembarquei em Guarulhos, pela (companhia aérea) Lanchile”, revela.

Certa vez, alguém também já disse – com razão - que a dor maior fica destinada a quem fica. Mães, pais, filhos, filhas, parentes que buscam uma explicação para o ocorrido. Mas que nem sempre a encontram. Ter a certeza que o fim chega para todos talvez ajude a amenizar o sofrimento, mas não é o suficiente. Se o domingo foi de sol, a segunda-feira chuvosa que se abateu sobre São Paulo retrata fielmente o espírito dos familiares que aqui ficaram, à espera que a enxurrada leve embora o pranto e as lágrimas que escorrem de suas almas, feridas e tristes almas.

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