A mulher do comboio

Monday, January 22, 2007

A cratera na avenida e o buraco nos corações

Medo, desespero, incerteza em relação ao futuro. A sensação de, literalmente, o chão se abrir, o corpo flutuar e finalmente cair. Desabar no meio da avenida, a terra firme faltar-nos aos pés, o coração vazio. Alguns habitantes de São Paulo sentiram essa terrível experiência; mas todos nós, acredito, já sentimos a dolorosa sensação de vazio na alma, um buraco no coração, ao ver um amor ir embora, soterrado pela terra e lama da desilusão.
O que fazer quando a normalidade do dia-a-dia é alterada, o curso de nossa vida é bruscamente modificado, sem tempo sequer de uma chance, de buscar uma reparação? Os avisos de que a obra estava para ruir já haviam sido emitidos; pequenas fissuras e um acidente fatal na construção já prenunciavam o desastre. Por que foram ignorados, não lhes dando a devida importância? Numa relação, também se é possível detectar pequenos sinais de um futuro desmoronamento. Por que não tomamos providências antes de tudo vir abaixo? Se os engenheiros e responsáveis são capazes de prever deslizamentos, não somos também de ver se a nossa “obra” – o relacionamento – está correndo risco de queda?
Numa operação complexa como a edificação de uma estação de metrô, há aparelhos modernos que indicam o andamento da execução. Num relacionamento, existem equipamentos assim? A emoção pode ser objetivamente avaliada? É, uma relação talvez seja uma obra mais complicada! Ou os sinais aparecem e, a exemplo do que aconteceu em São Paulo, fazemos “vistas grossas”, esperando e desejando que nada aconteça...e então acontece!
Poucos minutos tiveram os funcionários e moradores da região da obra do metrô para a fuga; as vítimas talvez nem tenham se dado conta do que se passou. Se no poema havia uma pedra no caminho, nesse caso houve um buraco escuro, triste e fatal. Numa relação, certamente temos mais tempo antes da sirene de alerta tocar, e assim corrigirmos o rumo.
Desta forma, realizemos uma reflexão em nossos relacionamentos; olhemos com um pouco mais de racionalidade, para detectarmos possíveis rachaduras e evitarmos o desmoronamento de nosso sonho, de nossa alma. E que os corações fiquem sempre preenchidos com massa profunda e concreta, firmes como rochas.

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