A mulher do comboio

Saturday, July 29, 2006

CRÔNICAS - RONALDO ANDRADE

Espera

21:45. O telefone toca. Corro em direção a ele, meio desinteressado. Afinal, quem poderia ser, nessa noite de quinta-feira chuvosa? Mas antes que pudesse atender, ele pára de tocar. Emudeceu, simplesmente. E eu ainda o tiro do gancho, numa costumeira e inútil mania de tentar pegar a ligação, mas que nós sabemos que não adianta nada, é apenas puro reflexo. Mas isso mexe comigo. Quem poderia ligar e, na última hora, ter desistido? Terá se arrependido? Será que no fundo de seus pensamentos, a pessoa decidiu que não valeria a pena falar comigo? Fico inquieto. O que poderia ter acontecido? Ah, logo em seguida o telefone voltará a tocar, é sempre assim, a pessoa volta e diz “Sim, estava tentando ligar, mas mudei de orelhão, o outro estava com defeito”. Sim, é isso. Esses telefones públicos vivem com defeito, a Companhia Telefônica sempre diz que conserta, mas depois sempre diz que os telefones vivem com defeito porque a população não os preserva, e é verdade, outro dia mesmo vi um senhor de idade (isso mesmo, não um moleque qualquer) ficar batendo em um orelhão, parecia estar com bastante raiva, dizendo que o cartão era novo, com 20 unidades, mas o mostrador apontava apenas 7. Isso acontece. Mas que droga, maldito vandalismo. E meu telefone não toca.
Fico a observá-lo, ele completamente mudo, quase implorando para que ele volte a inundar o apartamento com seu som estridente, muitas vezes nos irritando, outras acabando com a ansiedade de um telefonema aguardado. Mas ele não toca. Também, pensei, a culpa é minha, quem mandou ser arrogante logo no primeiro toque, bem feito, seja mais humilde da próxima vez, dê chance para que ele toque mais vezes. Tento ser arrogante mais uma vez, dou de ombros, mas continuo apreensivo. Agora, quero que ele toque, quero falar com alguém, não estava fazendo nada, é bom conversar numa noite chuvosa, a chuva batendo na janela querendo entrar, coitada, deve estar com frio, ah, essa foi boa, a chuva estar com frio. Mas ele não toca. Continuo a olhar, são quase 22:00hs. Ah, deve ser isso, a pessoa não vai ligar mais por causa do horário, ela é educada, mas não tem problema não, isso é só uma convenção social, pode ligar que eu não ligo não. Fico pensando quem poderia ter ligado... pego minha agenda e examino os nomes, um por um, mas isso me confunde: ao mesmo tempo que qualquer um poderia ter ligado, nenhum deles se daria ao trabalho de fazê-lo...grandes amigos, esses que tenho. Quem sabe, a minha namorada. É, acho que foi ela...se bem que hoje ela já me ligou. Duas vezes. A primeira ligação para falar sobre amenidades e para dizer que ligaria mais tarde para marcar um horário para gente se encontrar. A segunda ligação, para desmarcar o compromisso. Estranho. Ligando as coisas, dá para entender. Acho que ela ligou para terminar e, no último momento, não teve coragem ... deve ter se lembrado dos bons momentos. Modéstia à parte, bons mesmo. Mas tenho de confessar que nos últimos tempos a coisa está meio morna. Será que ligo para ela? Acho que não. Ligar para perguntar “era você que estava tentando ligar ?”, acho que é humilhante demais. Continuo a olhar, mas ele não toca. Sinto fome e caminho em direção à cozinha, mas me retenho no meio do corredor, com medo de que o telefone se aproveite de minha ausência e volte a tocar, e aí correrei para atendê-lo, não conseguiria, e tudo voltaria a acontecer. Então, sento-me na poltrona e me limito a observá-lo, ele mudo e eu mais ainda, estamos aqui os dois, sozinhos, homem e objeto, um olhando para o outro, desafiando-nos como num teste de resistência, do tipo quem pode mais. De vez em quando dou uma dormidinha, só fingimento, para ver se consigo enganá-lo e ele volte a tocar, e aí correrei para atendê-lo e enfim falarei com o misterioso ser que provocou tudo isso. Mas são quase 03:00hs da madrugada e o telefone não toca...
Uma mulher muito especial


Rita era uma mulher muito especial. Aliás, tão especial que o simples pronunciar de seu nome suscitava devaneios e sonhos do mais puro prazer. Enlouquecia os homens com a mesma rapidez com que os destruía. Realmente, era uma mulher muito especial.
Seu último romance terminou de maneira trágica, inconseqüente. Henrique, seu parceiro no amor e nos negócios, desejava-a ardentemente, mas nos últimos meses, algo estranho estava acontecendo. O calor mútuo da paixão estava morno, eles já não se entendiam. Ele, que planejava filhos, não agüentou a dor ao ouvir de sua amada o não de uma relação estremecida. Estava tudo explicado: Rita era a base de um sólido triângulo amoroso. A Henrique, frágil vértice desse terrível acontecimento, restava a sarjeta dos derrotados.
Já não se importava consigo próprio, queria desaparecer do olhar de todos. As Artes Plásticas, sua outra paixão, perdera um de seus melhores artistas, enfraquecido pelas loucuras da emoção. Procurava raciocinar: onde estava a razão? Perdido em seus pensamentos, mergulhava em um profundo abismo escuro e frio, sem chance de voltar.
Rita apenas lamentava o triste fim de Henrique. Seu espírito nórdico a impedia de transparecer seus verdadeiros sentimentos em relação às pessoas. Queixava-se que não podia amar: não queria transformar-se em prisioneira do coração. Sentia desejo de liberdade. Mesmo assim, soube-se mais tarde do fim de outro homem. Realmente, Rita era uma mulher muito especial.
Sedução


Os dois estavam no restaurante, apenas entreolhando-se, certamente indecisos e inseguros quanto a uma possível aproximação. Finalmente, a moça levantou-se e decidiu dar um basta àquela situação de dupla impotência e, chegando em sua mesa, convidou-o para dançar. A resposta positiva do cavalheiro era apenas a confirmação da tórrida noite que teriam.
No meio da dança e depois do inevitável clima surgido, foi a vez do rapaz tomar a iniciativa. Enquanto a música estimulava o desejo, ele jogava todas as sua fichas: “Que tal se formos para um lugar mais tranqüilo, onde pudéssemos nos conhecer mais... profundamente?” E ante a confirmação já esperada, apressaram-se em direção ao carro, certos de que tudo poderia acontecer ali mesmo.
Já dentro do automóvel, as carícias preliminares tornaram-se mais ousadas, incentivando a ida ao apartamento da mulher, um luxuoso dúplex não muito longe dali. Molhados pelo prazer, subiram pelo elevador. Àquela altura, porém, a mulher não poderia agüentar mais e decidiu satisfazer-se naquele momento. O homem deslizava os beijos por todo o seu corpo e sua respiração ofegante fazia com que ela o quisesse ainda mais. Pescoço, seios e boca eram inundados por beijos sedutores que os faziam enlouquecer. O sexo louco e impulsivo era estimulado ainda mais porque eles não se preocuparam em apertar o botão de emergência. Mas no íntimo, esperavam que o elevador se movimentasse e alguém os visse ali, alimentando seus sonhos secretos de voyear. A transa fazia com que o homem gemesse cada vez mais alto e que a mulher o acompanhasse nesse delírio, quando o elevador começou a subir! Sim, a expectativa de ambos havia sido atendida e o elevador foi subindo, subindo até chegar ao último andar daquele suntuoso edifício. A ansiedade da porta sendo aberta excitou-os ainda mais, fazendo-os chegar ao clímax daquela incrível noite de prazer, esperando a reação de surpresa da pessoa que desejava descer... mas a porta permaneceu fechada.
Mulheres

Afinal, o que as mulheres querem ? Sei que sou apenas mais um dos milhares de mortais que ousam tentar responder a essa intrigante pergunta, e que provavelmente serei também mais um a passar longe de uma possível resposta (se é que ela existe). Mas, desafiando a ira dos deuses (e das deusas também), lançar-me-ei a esse desafio, tal qual os grandes navegadores que se arriscavam ao mar atrás das grandes conquistas, ora por vez conquistando terras paradisíacas, ora por vez naufragando em mares escuros e revoltos, sem deixar rastros ou lembranças.
Bem, onde estávamos ? Ah, lembrei. Acredito que as mulheres, por serem de uma complexidade sem igual, querem coisas do outro mundo, do tipo “um homem bonito, inteligente, rico e que dê prazer sexual”. Certo ? Errado. Afora isso, elas querem mais, muito mais. Só que o “mais” em questão é muito mais simples do que parece, e aí é que entra a dificuldade. Algumas coisas, justamente por serem simples, são difíceis de serem conquistadas. Evidente que se o homem possuir as características descritas acima, seria bem melhor, unir o útil ao agradável. Mas as mulheres querem simplesmente serem amadas, desejadas e para isso não é necessário ter todas essas qualidades. É necessário, sim, compreendê-las como elas são: sensíveis, delicadas, donas de uma intuição sem igual e com uma enorme sede de amar. É gostoso e desafi-ador procurar desvendar seus segredos e anseios, desejá-las por completo, dos pés à cabeça.
Nós, os homens, temos uma missão na Terra: realizar seus desejos, sonhos e fantasias, mesmo correndo o risco de enlouquecê-las ou de sermos enlouquecidos por elas (o que, para dizer a verdade, é muito mais fácil de acontecer). Não há nada melhor, entretanto, do que proporcionar prazer à uma mulher, deixá-la literalmente nas nuvens! Há um vasto campo para fazer tudo isso, devemos aproveitar e procurar satisfazê-las da melhor maneira possível. Então, mãos (ah, as mãos !), cabeças e corações à obra !

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