A mulher do comboio

Wednesday, July 19, 2006

Mídia Impressa x Escola de Frankfurt
Indústria Cultural e Comunicação de Massa

A Mídia impressa demonstra em suas publicações um dos principais problemas do Jornalismo atual: a busca pelo sensacionalismo, o entretenimento em detrimento da informação, a “photo-op” do dia, o “fait-divers” da semana, as notícias vazias da “silly season”. O desvirtuamento dos princípios jornalísticos, a pasteurização e uniformalização do conteúdo, o apelo ao consumismo; questões que nos remetem ao pensamento dos teóricos da Escola de Frankfurt, que já abordavam sobre a Cultura de Massas e a Indústria Cultural.
Um exemplo recente, na época da Copa do Mundo: a cobertura da Seleção Brasileira se baseou nas polêmicas do atacante Ronaldo, e não no próprio time, criando fatos e alimentando discussões numa pretensa justificativa de que “assim deseja o público”, argumento no mínimo discutível. (Deve-se dizer que as próprias figuras públicas ajudam a criar esse ambiente, pois lhes beneficiam em termos de marketing, dentro da perspectiva da cultura de massa, mantendo a curiosidade do público). As revistas de celebridades brigam entre si para ver quem publica primeiro fotos de casamentos e de nascimento de bebês de famosos, numa promiscuidade entre entretenimento e Jornalismo que acaba prejudicando o segundo. Em investigações jornalísticas, sobretudo no campo político, há uma ênfase nas denúncias, alimentando o espetáculo, diminuindo posteriormente o espaço destinado às apurações das mesmas. Afinal, novas denúncias precisam ser investigadas ou inventadas, pois o show não pode parar.
Um exemplo que também vale a pena ser citado é o do presidente George Bush, que se utilizou da mídia para convencer a sociedade norte-americana de que não havia alternativa senão a guerra contra o Iraque, acusado de produzir e estocar armas de destruição em massa. A indústria cultural também foi decisiva para manter a coesão social durante a Guerra Fria, período marcado pela divisão política em dois pólos: o capitalista, liderado pelos Estados Unidos, e o socialista, comandado pela antiga União Soviética, com a exaltação da mídia ao alto padrão de consumo da sociedade capitalista, especialmente nos EUA, associando-o à idéia de liberdade.

Consumismo

A indústria cultural age na divulgação da idéia de consumismo como liberdade de escolha do indivíduo. A análise crítica de Adorno em relação a tal realidade permanece intacta. Segundo o filósofo, essa é a grande intenção da Indústria Cultural: eclipsar a percepção de todas as pessoas, principalmente daquelas que são formadores de opinião. Ela é a própria ideologia. Os valores passam a ser regidos por ela. Até mesmo a felicidade do individuo é influenciada e condicionada por essa cultura. Adorno e Horkheimer abordaram esse fato no livro Dialética do Esclarecimento, através do caso do canto das sereias do épico de Ulisses.
Assim, o conteúdo do Jornalismo sai prejudicado, dando-se um valor maior à forma. O processo de interação entre as pessoas e os meios de comunicação deteriora-se, prejudicando a capacidade e a autonomia do receptor de informações - o indivíduo comum – em suas escolhas e interpretação; de outro lado, estudiosos que enxergam a Mídia como uma manipuladora incontrolável, tornando-se mais complexas as relações entre público e mídia.
Tal fato acarreta a uma diminuição da circulação de jornais e revistas, pois o leitor mais tradicional, considerado também o mais crítico, procura outros meios de informação, nomeadamente a Internet, em que muitos jornalistas e colaboradores de jornais e revistas publicam em blogs suas opiniões, com liberdade às vezes maior do que no impresso. Desta forma, se quiser recuperar o prestígio de outrora ou conquistar um público mais jovem, que acaba por ir à Internet à procura de notícias, os impressos deverão estimular a independência e a busca por um Jornalismo mais consistente, que valoriza a informação e não o entretenimento, fazendo jus a seus princípios.








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