A mulher do comboio

Wednesday, July 19, 2006

Como a progresso tecnológico prejudica o repórter no seu trabalho
Ronaldo Andrade e Luana Mendes

Indubitavelmente pode-se afirmar que a tecnologia mudou o Jornalismo, não se referindo apenas às sofisticadas máquinas de impressão e inovação dos computadores, por exemplo, que oferecem uma maior agilidade às coberturas feitas pelos veículos de comunicação. Modificou também a rotina do jornalista, a sua maneira de agir, de pensar e de trabalhar para passar ao público aquilo que, de fato, seria classificado como a verdadeira versão dos fatos.
A tecnologia produziu um paradoxo: se um dos princípios básicos do bom Jornalismo é a presença in loco do jornalista - traduzida na máxima “lugar de repórter é na rua” - o progresso fez com que a comodidade de comunicação na redação (fax, computador, internet) o deixasse um pouco mais afastado das ruas, prejudicando sua capacidade de discernimento, julgamento e percepção dos acontecimentos dos quais irá escrever.
A bússola do trabalho do jornalista – a pauta – não é formulada somente nas redações; a observação do cotidiano, o contato com as pessoas, é fundamental para a elaboração da mesma. A contenção econômica feita por jornais, revistas e TVs, em alguns casos realmente necessários, em outros simplesmente por eliminação de custos, colabora para a manutenção deste quadro. As grandes reportagens, ou reportagens em série, que levam mais tempo para serem elaboradas, tiveram uma diminuição; os repórteres tinham de viajar, se deslocar com mais freqüência para obter informações relacionadas à matéria que estavam escrevendo. Atualmente, isso ocorre com menor intensidade, pelo falso conforto que a tecnologia oferece aos profissionais da área, que podem realizar uma matéria sem sequer sair da redação. Em alguns casos, realmente o fato de não se ausentar do seu local de trabalho é válido, porém isso estimula o acomodamento, vício fatal para a ambição de querer fazer sempre o melhor possível. Mas por que falsa comodidade? A resposta é simples: pouco adianta termos uma tecnologia de ponta se ela muitas vezes ajuda mais a esconder os fatos do que trazê-los à tona.
Se ao invés do jornalista buscar a verdade nas ruas, ficar o dia inteiro na redação, terá uma dificuldade maior para a apuração da verdade, pois não esteve presente no local do acontecimento, portanto não vivenciou nada. Informar tem de ser vivenciar, para assim então conscientizar.
Muitas notícias atualmente são tão previsíveis e repetitivas que, com um simples palpite, podemos acertar a manchete da próxima edição de um jornal. Ainda existem aqueles profissionais que acreditam que a cobertura de uma reportagem rotineira foi a melhor de suas vidas. Mas então, o que seria cobrir uma guerra entre traficantes num morro do Rio de Janeiro, investigar os crimes e injustiças cometidas pela Polícia ou descobrir o que se passa nos bastidores de um governo com tantos escândalos de corrupção? Honestamente, isso que é jornalismo, mostrar ao povo aquilo que ele não pode ver, oferecer possibilidades para que o leitor / telespectador desenvolva a opinião crítica e possa emitir um julgamento isento.
Evidentemente que não pode haver uma generalização, ou seja, não seria sensato afirmar que a tecnologia não trouxe benefícios ao Jornalismo. Coberturas ao vivo, provenientes de diversas partes do mundo; a transmissão de dados em tempo real, ou imediatamente após os fatos (Copa do Mundo, por exemplo), só são possíveis devido ao avanço tecnológico. Mas o ponto principal deste texto é alertar quanto ao perigo da tecnologia em prejudicar o trabalho do repórter, estimulando sua acomodação. Sem haver vivência ou muito envolvimento, sem que os profissionais possam desfrutar de um maior aprofundamento, privando-os de se apegar aos detalhes, os quais no momento da elaboração da reportagem passam completamente despercebidos.
Obviamente a tecnologia tem seus prós, mas no Jornalismo, em muitas situações, o que prevalece são os contras.









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